O saneamento básico é um direito essencial, mas sua ausência impõe barreiras desiguais na vida de milhões de brasileiras. O impacto da falta de acesso à água tratada, coleta e tratamento de esgoto recai com maior intensidade sobre as mulheres, sobretudo em comunidades vulneráveis. As consequências vão além das questões de saúde pública, alcançando a dignidade, o tempo, a renda e a segurança física das mulheres.
Segundo o estudo do Instituto Trata Brasil em parceria com a BRK Ambiental, aproximadamente 5,8 milhões de mulheres não têm banheiro de uso exclusivo em casa. Outras 4,1 milhões vivem sem acesso à água encanada e 10,6 milhões estão sem coleta de esgoto (TRATA BRASIL; BRK AMBIENTAL, 2022). Entre essas mulheres, 1 em cada 4 perde até um mês de trabalho por ano por doenças relacionadas à precariedade sanitária. Isso representa perda de renda e sobrecarga com o cuidado de familiares doentes, comprometendo a autonomia econômica feminina.
As doenças mais comuns causadas pela ausência de saneamento básico incluem diarreia, hepatite A, leptospirose, verminoses e infecções de pele. A diarreia, por exemplo, está entre as principais causas de internação infantil e é responsável por elevados índices de absenteísmo escolar. A hepatite A é transmitida pelo consumo de água contaminada e pode causar surtos em comunidades inteiras. A leptospirose, por sua vez, está associada a enchentes e ao contato com esgoto a céu aberto, aumentando os riscos durante os períodos de chuvas em áreas urbanas precárias.
Além dos impactos diretos à saúde, o cenário de ausência de saneamento compromete a dignidade das mulheres. Em muitas comunidades, são elas que caminham longas distâncias para buscar água ou se expõem a riscos ao utilizar banheiros improvisados em áreas públicas. Como destaca a Rede Brasil do Oceano, “o banheiro passa a ser um lugar de medo e vergonha, principalmente para mulheres e meninas em situação de rua ou em favelas” (REBOB, 2023). Esse cenário afeta a higiene menstrual, compromete a saúde íntima e contribui para a evasão escolar — 1 em cada 4 meninas já faltou à escola por não ter acesso a banheiro adequado durante a menstruação (TRATA BRASIL; BRK AMBIENTAL, 2022).
Apesar de serem maioria da população (51,1% segundo o IBGE), as mulheres ainda têm pouca representatividade nas decisões sobre políticas de saneamento. A ABCON SINDCON alerta: “as mulheres representam a maioria da população brasileira, mas sua voz ainda é pouco ouvida quando o assunto é saneamento básico” (ABCON SINDCON, 2022). Isso também se reflete na baixa presença feminina em cargos técnicos e de gestão no setor.
Referências Bibliográficas
ABCON SINDCON. Falta de saneamento básico afeta a todos, mas prejudica ainda mais a mulher. 2022. Disponível em: https://abconsindcon.com.br/falta-de-saneamento-basico-afeta-a-todos-mas-prejudica-ainda-mais-a-mulher/. Acesso em: 30 maio 2025.
REDE BRASIL DO OCEANO (REBOB). Além das águas: a invisibilidade feminina na luta pelo saneamento básico no Brasil. 2023. Disponível em: https://www.rebob.org.br/post/al%C3%A9m-das-%C3%A1guas-a-invisibilidade-feminina-na-luta-pelo-saneamento-b%C3%A1sico-no-brasil. Acesso em: 30 maio 2025.
TRATA BRASIL; BRK AMBIENTAL. Mulheres e o Saneamento: estudo sobre os impactos da falta de acesso ao saneamento básico na vida de mulheres brasileiras. São Paulo: Instituto Trata Brasil, 2022. Disponível em: https://tratabrasil.org.br/wp-content/uploads/2022/09/Release_Mulheres_e_saneamento_rev.pdf. Acesso em: 30 maio 2025.